Não venho hoje aqui retomar a polêmica que tivemos sobre o registro do termo Agilista. Uma vez que para mim a leitura é muito simples, pessoas tem atitudes e comportamentos conforme seus valores e crenças, que são delas e estão de bem com as consequências (toda a ação gera uma reação), e as nossas leis e regulamentações possuem brechas ou falhas, que permitem que sejam utilizadas a favor do interesse de cada um! Sabemos que um ótimo advogado é aquele especialista nisso!

Dito isso, todo esse cenário me levou a uma outra reflexão. Agilista seria profissão? Alguém que prega uma filosofia de agilidade? Um praticante de frameworks e midset ágil ? Uma competência?

Dando um passo atrás, olhando para o conceito de agilidade na sua origem (Wikipidia):

“A agilidade é a habilidade de mudar a posição do corpo de maneira eficaz. É uma qualidade que se atribui a uma pessoa mediante a qual obtém um controle total de suas partes do corpo, e pode as mover com rapidez e soltura. Dita qualidade atribuem-se-lhe aos desportistas em general. Requer a integração de habilidades referidas a movimentos individuais usando uma combinação de equilíbrio, coordenação, velocidade, reflexos, força e resistência:

  • equilíbrio, habilidade de manter-se estável pela realização de ações coordenadas ou pelas funções sensoriais

    • estático, capacidade de manter o centro de gravidade acima do ponto de apoio numa posição estática
    • dinâmico, habilidade para manter o equilíbrio quando o corpo está em movimento
  • coordenação, habilidade de controlar o movimento do corpo em coordenaçãocom as funções sensoriales

  • velocidade, capacidade de mover todo ou parte do corpo de forma rápida

  • força, capacidade de um músculo ou grupos de músculosde vencer uma resistência”

 

Habilidade geralmente relacionada a atletas de alta performance que, no contexto organizacional, podemos de maneira simplista traduzir em algo como uma habilidade de continuamente melhorar a partir da flexibilização, adaptação e aprendizado, tendo como resultado entregas de valor frequente, buscando ser cada vez mais em ciclos mais curtos.

Olhando para esse cenário e experiências vividas, me leva a um sentimento de que não busco ser agilista, mas ter as competências relacionadas a um agilista, somada a outras competências, para que então eu possa ser eficiente e eficaz nos fluxos de trabalho que eu esteja inserida, impulsionando essa entrega de valor mais cedo, em que, a organização sim se torne vista como ágil. E, melhor ainda, se puder contribuir no desenvolvimento dos times ao ponto que me torne desnecessária naquele contexto e possa partir para um novo desafio. Não necessariamente nova empresa !

Para que a organização se comporte de forma ágil, todos os profissionais, seja arquiteto, engenheiro, de tecnologia, finanças, devem ter as competências equilíbrio, coordenação, velocidade, reflexos, força e resistência, além da parte técnica da sua função, assim como qualquer atleta de alta performance, não ? Talvez isso não seja possível em todas as pessoas que compõem um time, por diversos fatores.  Razão pelo qual buscamos a diversidade, onde essas competências se somam,  permitindo não somente melhores resultados, mas a evolução de cada individuo nessa direção, para que possamos ser flexiveis e adaptativos através de um conhecimento cada vez mais multidisciplinar.

A primeira vez que tive uma reflexão similar foi alguns anos atrás, quando estava em uma organização multinacional em que estava em discussão não usar mais o nome Gerente de Projetos, pois remetia a burocracia e estava difícil defender o custeio desse papel nos projetos dos clientes. O interessante é que não havia discussão quanto a manter competências similares nos projetos, mas apenas mudar o nome da função, ou seja, se via valor em grande parte dos skills. Nessa época tive a oportunidade de conversar com o Presidente do PMI Global que estava em exercício e levei essa pergunta de como ele estava vendo esse movimento de não ter mais o profissional Gerente de Projetos. E a resposta foi “I don’t care, o que entendemos enquanto instituto é que as práticas de gerenciamento de projetos devem ser fundamentais para qualquer profissional para que ele possa ajudar as organizações obterem resultados, seja ele advogado, engenheiro ou diretor financeiro.”

Foi revelador!

Hoje mesmo estou no VMO do Hub Digital da Globo, focada na liderança do trabalho de evolução da gestão do Lean Portfólio, onde a minha função oficial está relacionada a Enterprise Agile Coch, em que na verdade as competências aplicadas são de diversas naturezas para além das esperadas de um Agile Coach, como visão financeira por exemplo, ainda que as práticas sejam fortemente baseadas no Lean. E a troca com o time tem sido um aprendizado incrível, agregando ainda mais competências na minha construção como profissional.

Fora da Globo tenho outras funções profissionais, voluntárias ou não, como Co-host no Agile World, Head de Negócio e Cultura na Jornada Colaborativa, Professora em diversas instituições como Mackenzie, BBI e Impacta, que aplico outras competências não necessariamente utilizada dentro da Globo, ainda que muitas vezes são complementares nos diversos cenários.

Dessa forma, na minha vida profissional, em alguns momentos sou agilista, outros professora, outros podcaster e assim por diante.

Com tudo isso acontecendo no âmbito empresarial, eu me questiono se ainda faz sentido nos dias de hoje discutirmos e falarmos de profissão, tentando colocar tudo numa caixinha, ou se devemos focar cada vez mais em evoluirmos em competências e comportamentos que sejam flexíveis e adaptativas, que de fato agreguem valor nesse mundo BANI que estamos vivendo! Inclusive apoiando o RH em como fazer evoluções na estrutura de cargos e funções, para que um nome, relação hierárquica ou “job description” não seja um ofensor para a melhoria contínua das organizações!

Quando me perguntam qual a profissão do futuro, costumo dizer que não tenho a mínima ideias, mas que não tenho dúvidas sobre algumas das características essenciais para qualquer profissional que queira crescer no mercado de trabalho.

Como está sendo isso para você? Gostaria muito de saber!